Nunca é tarde para Amar!

15-12-2022

Faz hoje 13 anos que re-encontrei a minha alma gémea! Alguém com quem aconteceu um reconhecimento tão profundo, como se nos conhecêssemos bem apesar de não sabermos nada um do outro, de querermos estar próximos sem saber bem porquê, enfim, de nos sentirmos simplesmente em casa um com o outro.

Para dizer a verdade, não acredito que tenhamos apenas 1 alma gémea, aliás reconheço que já encontrei algumas almas gémeas nesta vida, homens e mulheres. Mas a certa altura, tornou-se claro que era com esta em particular com quem cria crescer na vida. Para quem me conhece, é óbvio que falo da minha esposa, mãe dos meus filhos e companheira de vida - Teresa.

Durante uma boa parte nestes 13 anos eu senti muitos medos! Medo de ficar sozinho, de não ser suficiente bom marido, bom pai, bom amante, e por aí fora. Mas diria que o principal medo era o de me entregar verdadeiramente ao amor, de Ser Amor e Amar de corpo e alma e sofrer uma vez mais, como já havia sofrido no passado.

E durante muito tempo dei o meu melhor, ou que pensava ou escolhia ser o meu melhor, sempre com muitas ideias e reservas, como é habitual em alguém que aprendeu a tentar controlar tudo na Vida. Mas é impossível controlar a Vida, podemos resistir-lhe, mas ao fazê-lo estamos apenas a adiar e a criar sofrimento para nós e para os outros. Por isso, para além de muitos momentos aqui e ali, o que eu dava nunca parecia ser suficiente para ela, e vejo agora que também não o era para mim...

Então ao longo destes 13 anos foram várias as vezes em que a Teresa me chamou a atenção, ora dizendo-me que algo precisava mudar em mim para continuarmos juntos, ora mostrando-se mais interessada em algo ou alguém, fora do nosso relacionamento. Em cada uma destas vezes respondi, a princípio a partir do medo de ficar sozinho, depois a partir da certeza de que queria continuar em relação, mas só mais recentemente a partir do enorme amor que sinto por ela e pelo potencial de tudo o que podemos criar (e já criamos) juntos.

Sei que esta história não é só minha, ou antes nossa, que muitos outras casais viveram, vivem e irão continuar a viver histórias muito semelhantes, mesmo que tenham contornos bem diferentes. Por isso me sinto inspirado a contá-la de forma tão aberta e honesta, para que esta partilha eventualmente traga clareza, paz ou até mesmo esperança a quem estiver a viver algo semelhante e não saiba muito bem o que fazer.

Então como sabemos se ainda há esperança para tornar uma relação mais saudável, criativa onde os resultados são muito maiores do que a simples soma de ambas as partes, ou se chegou a hora de cada um seguir o seu caminho? Pois, esta não é uma pergunta nada fácil de enfrentar, nem tão pouco tem sempre uma resposta clara. Nós próprios a temos tido bem presente connosco nas últimas semanas. No entanto, é importante que não sejam outras perguntas a levar-nos a encontrar uma resposta, como: "Mas o amor ainda existe entre nós, porque não tentamos só mais uma vez?" ou "Mas então como fazemos com as crianças?"

É óbvio que qualquer uma destas, ou outras perguntas, são importantes e devem pesar na tomada de decisão, mas nunca devemos perder o contacto com uma perspetiva maior e com o que é fundamental. Na minha perspectiva, se cada um de nós não estiver enraizado em si próprio de forma firme, não se conhecer bem e não cuidar das suas principais necessidades (mais uma vez abrangendo sempre corpo, alma e espírito), e se não tiver bem claro o que pretende da relação, então inevitavelmente iremos procurar algo fora de nós. Se eu não souber quem sou, não reconhecer e viver enquanto já sendo um ser completo em mim mesmo, então irei continuar a sentir que me falta algo, que só alguém me poderá dar.

Então o que fazer, como responder a esta indefinição? Ontem à noite depois de me deitar não conseguia dormir, a sentir e a pensar tudo o que está vivo em mim. Então, em vez de me entregar à frustração, ou ao medo, levantei-me da cama e segui o impulso que estava vivo em mim. Naquele momento, esse impulso levou-me a ler durante algumas horas, no sentido de me re-conhecer a mim e a ela um pouco melhor, a encontrar respostas sobre quais os próximos passos e o que poderá ser o melhor para cada um de nós. E isso trouxe-me muito, desde o reconhecimento de quem sou (mas que às vezes ainda me esqueço), de quem ela é (e que durante muito tempo fechei os olhos para não o ver e não sentir o meu amor por ela), do propósito de um relacionamento, mas principalmente do propósito do nosso relacionamento.

Depois de sentir tudo isto, a certa altura senti-me em paz para ir dormir. E hoje de manhã quando a Teresa veio ter comigo, tudo estava mais claro e as palavras vinham-me com uma simplicidade e uma certeza, não de qual será o desfecho, mas de onde estamos e do que é importante fazer a seguir. Em qualquer relação, uma das coisas mais importantes é o diálogo sincero, baseado na verdade e simplicidade. Nos últimos anos, muito fruto da grande complexidade e exigência das nossas vidas, esse diálogo tem faltado muitas vezes, ou não tem acontecido a partir do amor que está, e sempre esteve, bem vivo entre nós. Mas tal como aconteceu nos primeiros tempos do nosso relacionamento, esse diálogo, carinho e cuidado está de novo presente, o que me faz acreditar que tudo é possível.

Nos dias de hoje, e principalmente nos últimos anos, é extremamente difícil manter os relacionamentos vivos e em constante crescimento! Porquê? Para além de algumas das razões que escrevi em cima, atrevo-me a acrescentar que estamos demasiado habituados a querer sempre tudo o que desejamos, e quanto mais rápido melhor. Onde está o cultivo da paciência, da devoção, da entrega ao outro e a algo maior que nós? Porque nos é tão difícil sentir a dor (das nossas ações e das dos outros) e o desconforto do não saber, mas senti-lo mesmo nas nossas entranhas e chorar se for preciso? Porque nos é tão difícil ouvir o outro (e não apenas com os nossos ouvidos), senti-lo, vê-lo por quem é, para além de como o vemos ou imaginamos ser?

Este ano tenho-me permitido sentir muito. E digo-vos, não tem sido nada fácil! Mas quanto mais o faço, sem me distrair com outras coisas, mais o meu coração e a minha mente se abrem, para um potencial que ainda não vivi e desconheço. Porque quando há Amor, Entrega e uma Vontade Imensurável de Viver Plenamente, uma relação a dois não é apenas a soma de ambas as partes, nem é algo que possa ser quantificável. Só então cada um descobre o significa dar tudo em cada momento, por si próprio, pelo outro e, em última instância, por toda a Humanidade.