Quanto Vale Uma Vida?
Este fim-de-semana perdi pelo menos 2 galinhas, atacadas pelo saca-rabos (digo pelo menos, pois no ano passado nasceram aqui 11 galinhas de uma só vez e acabei por lhes perder a conta)! Hoje à hora do almoço ouvi-as um pouco agitadas e fui ver... Quando cheguei ao galinheiro e vi um saca-rabos lá dentro, peguei na forquilha e fiquei à porta a ver o que ele iria fazer!
O galinheiro não é muito grande, cerca de 35m2, por isso ele não tinha muito por onde fugir! E ele bem procurou os buracos, mas eu já os tinha tapado no fim-de-semana, por isso a única saída era a porta, mas estava lá eu a guardá-la...
Enquanto o observava, questionei-me sobre o que queria fazer com ele... Deverei deixá-lo fugir? Afinal não defendo a morte da vida selvagem. Mas o "sacana" já matou algumas galinhas e irá certamente matar as outras se o deixar fugir. O que vale mais, a vida de uma galinha, ou a de um seu predador?
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A primeira vez que matei um animal, há cerca de 4 anos, foi uma galinha da nossa criação! Na altura estava a explorar o legado masculino em mim, que recebi dos meus antepassados, e esta foi uma experiência que decidi contemplar! Inicialmente comecei por apenas realizar uma exploração mental, emocional e ética, que levou a reveladoras conversas entre amigos e família.
Uma das questões mais importantes, e que no final me levou a avançar, foi o facto de eu comer carne, mas apenas comer o que outros já mataram! Tenho consciência que é esse o caso para a maioria de nós, que, quando muito, apenas usam uma faca para cortar (na tábua antes de cozinhar, ou já no prato). Mas então, porque é que durante milénios a transição de rapaz para homem envolvia enfrentar perigosos desafios, como por exemplo matar um animal para comer? Será que tal experiência me poderia trazer um elemento importante no meu próprio desenvolvimento?
Uma boa parte da minha mudança da cidade para o campo, foi também para assumir uma maior responsabilidade, não só pelas minhas necessidades, como também pelo "lixo" que produzo! E uma das principais necessidades é o alimento, mas é muito mais simples fazer crescer fruta e legumes, do que matar um animal para o comer...
Confesso que apenas matei 2 ou 3 galinhas e um pato, e de todas as vezes me foi difícil fazê-lo, pois há algo em nós que vai contra tal acto! Mas sempre o fiz com muito respeito e gratidão, pela vida e pelo alimento...
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Voltando ao evento de hoje... Após várias voltas e insucesso em escapar, e de por 2 vezes ter passado bem perto de mim, o saca-rabos acabou por tentar fugir pela porta que eu guardava! Naquele instante, decidi tentar apanhá-lo... e fui bem sucedido...
Quando ele se viu preso, emitiu alguns gritos que revelaram um segundo animal do lado de fora da rede, que inicialmente tentou entrar, mas acabou por não o fazer! Novamente o meu dilema voltou a ganhar a minha atenção: "Deverei matá-lo, ou deixá-lo fugir?" Apesar das suas tentativas para se libertar e me intimidar (e acreditem que eles podem ser bastante intimidadores), acabei por desferir alguns golpes que finalmente lhe tiraram a vida.
No final senti-me profundamente abalado pela experiência, que foi a mais próxima que já tive da realidade que os meus antepassados mais longínquos viviam quase todos os dias. Apesar de não ser algo que deseje experimentar mais vezes, há um potencial transformador numa experiência que, tal como esta, nos coloca em contacto com o selvagem, dentro e fora de nós...
Não sei se os animais selvagens têm qualquer contacto com o medo! Passadas 2 horas deste evento, vi da janela de minha casa o outro saca-rabos a cerca de 5m das galinhas. Saí imediatamente e consegui afugentá-lo, vendo-o ao longe a olhar para mim. Sei que irá voltar e que na maioria das vezes não estarei aqui, mas quando estiver, irei novamente proteger a vida dos seres que estão mais próximos de mim e dos quais sou cuidador...
Se já tiveram experiências semelhantes, ou exploraram este assunto, gostava de ouvir as vossas partilhas 🙏🏼