Transmitir a Essência Masculina, de Pai para Filho!
Uma das dimensões mais importantes em ser Homem, que tenho aprendido no Coletivo de Homens Vida Desperta (do qual faço parte há cerca de 12 anos), tem sido a de entrar em contacto com a minha essência masculina, que durante uma boa parte do meu desenvolvimento não cultivei e até neguei! Hoje em dia, vivemos hoje numa sociedade onde muitas vezes a masculinidade é vista como tóxica, não apenas pelas mulheres (oprimidas por séculos de patriarcado), mas também por muitos homens. Quais serão as principais razões desta reatividade? As razões serão certamente muitas, mas gostaria de explorar aqui essencialmente duas.
Desde a Revolução Industrial que a maioria dos pais têm estado menos presentes no seio familiar, ora trabalhando longe de casa por meses a fio, ora trabalhando fora durante todo o dia, impossibilitando uma presença diária contínua com a sua família. Antes desta grande transformação na nossa sociedade, que se iniciou há cerca de 300 anos, os homens também passavam algum tempo fora, a proteger e providenciar abrigo e alimento para a sua comunidade. Mas pelo menos os filhos rapazes, a partir de certa idade, eram iniciados na sua masculinidade, através de rituais de iniciação muitas vezes bem desafiadores e perigosos, após os quais passariam a acompanhar os restantes homens da tribo. Com uma maior ausência dos pais, os nossos jovens têm sido criadas essencialmente pelas suas mães, tal como aconteceu comigo e provavelmente contigo, e daí hoje em dia ser difícil para os rapazes e jovens adultos terem referências de uma masculinidade enraizada, forte e saudável.
Neste vídeo, no qual o Pete entrevista o autor Charles Eisenstein, este fala a certa altura sobre uma experiência que eu próprio senti, a de ter mais de 30 anos, de já ser até pai, mas de ainda não me sentir verdadeiramente homem. Algo de muito importante se perdeu na nossa sociedade, onde não só é cada vez mais raro encontrar exemplos de uma masculinidade madura e saudável, como também da vivência de importantes processos de iniciação.
Hoje em dia, se um homem fala e age de forma confiante, principalmente na nossa cultura portuguesa, facilmente é julgado e criticado como sendo demasiado arrogante. Mas não será a passividade e quase dormência generalizada, a que temos assistido de forma muito evidente nos últimos 3 anos, mais patológica do que uma expressão por vezes exagerada da força e confiança masculina? Estaremos nós homens tão amedrontados pelos nossos medos e das potenciais consequências das nossas acções, que nem sequer ousamos arriscar fazer o que o nosso instinto nos impele a fazer, na defesa da Verdade e da Justiça? Será que já não temos sequer memória de como o fazer, nem encontramos exemplos que nos inspirem?
Algo a que tenho estado mais atento e que tenho procurado fazer principalmente com o meu filho Miguel, agora com 10 anos e meio, é de lhe transmitir mais confiança nele próprio e desafiá-lo a ir além dos seus próprios limites. É esse o principal propósito da iniciação masculina, que durante milénios fez parte do processo de transição do rapaz para o homem, e onde o iniciado era confrontado com desafios físicos, emocionais e mentais. Quando bem sucedido, o iniciado ganhava um novo "estatuto" e era convidado a abraçar uma maior responsabilidade na sua própria comunidade.
Apesar de na nossa cultura não haver hoje em dia grande memória destes rituais, há certas actividades que podem hoje desempenhar um papel algo semelhante, desde que haja uma orientação consciente nesse sentido. Por exemplo, na prática de desportos de equipa, como o futebol que o Miguel iniciou há 2 meses, há certos valores e objectivos que podem contribuir para o desenvolvimento de qualidades masculinas essenciais aos nossos jovens, como a perseverança, coragem, determinação e o trabalhar em conjunto para um objectivo comum, que ao mesmo tempo transcende a vontade e capacidade individual de cada um.
Ao mesmo tempo, reconheço hoje que independentemente das experiências que eu possa providenciar ao meu filho Miguel, nunca serei capaz de lhe proporcionar tudo. O valor da comunidade, através da presença e contribuição de outros homens é também essencial, não só pela variedade de experiências que podem acrescentar, mas acima de tudo, pela possibilidade de ele ver e sentir nas suas presenças, muito do que significa ser homem!
A mim, enquanto pai e amigo, cabe-me a responsabilidade de estar presente, de ser ao mesmo tempo uma expressão de firmeza e amor, de apoiar o melhor nele e de o desafiar a ser sempre a melhor versão dele próprio, com paciência, coragem e humildade. E não o estou a fazer só com o Miguel. Cada vez mais reconheço em mim o dever de estar também disponível e presente para outros jovens, na comunidade alargada onde vivo, para que também eles possam ver e sentir em mim uma presença masculina, que os apoie e inspire a eles próprios abraçarem a sua masculinidade e se tornarem um dia homens mais completos e maduros.